quinta-feira, 4 de novembro de 2010

sábado, 28 de agosto de 2010

Crianças com excesso de peso lutam contra 'vontade de comer besteira'

28/08/2010 08h35 - Atualizado em 28/08/2010 08h35

Crianças com excesso de peso lutam contra 'vontade de comer besteira'
33% entre 5 e 9 anos e 20% entre 10 e 19 anos estão acima do peso.
Em São Paulo, ONG ajuda na reeducação sobre hábitos alimentares.

Mariana Oliveira
Do G1, em São Paulo

Larissa e José Ricardo praticam atividades físicas e controlam a alimentação contra o excesso de peso; Larissa já emagreceu 18 quilos. José Ricardo da Silva Barbosa, de 12 anos, começou a engordar aos 3 anos de idade. A família achava que ele era apenas gordinho, que não havia problemas. O pediatra, porém, alertou a família sobre os perigos do excesso de peso.

"Ele comia muito fora do horário, bastante besteira, bolacha, e não costumava fazer atividades. Ficava sentado na frente da televisão. Só fazia exercício na escola. Não chegou a ter problema de saúde, mas se continuasse como estava, poderia ter", conta a avó Cleuza.

José Ricardo hoje pesa 58 quilos e está acima do que deveria, de acordo com a especialista que o acompanha. O menino diz que é "difícil" emagrecer. "Sinto vontade de comer besteira, sinto falta das frituras, de coxinha", contou ao G1. A avó afirma que foi complicado fazê-lo abandonar o hábito de comer sempre com farofa como acompanhamento. "Ele gostava muito, mas não pode."

Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que quase metade da população brasileira (49%) com 20 anos ou mais está com excesso de peso. Entre as crianças de 5 a 9 anos, uma em cada três (33,5%) tem excesso de peso e 14,3% são obesas. Já entre os adolescentes de 10 a 19 anos, 20,5% têm excesso de peso e 4,9% apresentam obesidade.

A irmã de José Ricardo, Larissa, de 14 anos, também briga com a balança. O problema deles não é genético, segundo a avó. Ela chegou a pesar 94 quilos. Em dois anos, desde que entrou em um projeto para ajudar crianças e adolescentes obesos, emagreceu 20 quilos. Hoje está com pouco mais de 76 quilos, ainda acima do considerado normal para sua idade. "Estou me sentindo bem melhor agora", conta Larissa, que afirma que tenta comer em menor quantidade os alimentos que engordam.

A avó afirma que a mudança nos hábitos alimentares da neta foi radical. "Antes ela comia quatro pedaços de pizza, agora come um e meio. Ela gosta de comer besteira, mas sabe que não faz bem."

Júlia Lavorenti tem 10 anos e pesa 53 quilos. Ela está acima do peso. A avó Maria Morena Lopes conta que a menina começou a engordar aos 6, 7 anos. "Ela comia certinho, na hora do almoço. A gente não dava besteira. Mas depois que a irmãzinha nasceu, acho que ela ficou com ciúme e começou a comer doces escondida. Ela subia nas cadeiras da cozinha e comia escondida bolacha, chocolate, brigadeiro. Chegava a esconder os papéis do chocolate para a gente não brigar. Cheguei a suspeitar que tinha tireóide, mas não era. Ela foi engordando aos pouquinhos", conta a avó.

A saída para ajudar Júlia foi cortar as besteiras. "Na lancheira da escola, a mãe só coloca lanche natural, fruta, todos os dias."


Júlia, de 10 anos, pesa 53 kg e está acima do peso. Ela participa de projeto que incentiva mudança de hábitos alimentares e prática de exercícios (Foto: Daigo Oliva / G1)Projeto
José Ricardo, Larissa e Júlia participam das atividades do Instituto Movere, na Zona Leste de São Paulo, que ajuda crianças e adolescentes de baixa renda que lutam contra a obesidade. Em atuação desde 2004, o projeto atua para reeducação dos hábitos alimentares e incentivo a atividades físicas. Três vezes por semana, as crianças participam das atividades, que inclui aula de culinária com alimentos saudáveis.

A presidente da entidade Vera Lúcia Perino Barbosa, especialista em Nutrição Infantil, diz que os pais não devem proibir alimentos gordurosos, mas sim controlar a quantidade. "Tudo o que se proíbe é mais gostoso. Sentindo falta de coxinha, pode comer. Faz um dia da coxinha em casa, duas para cada pessoa da família. Não pode é todo dia. É preciso controlar a quantidade e incentivar a prática esportiva."

Vera afirma que o excesso de peso deve ser controlado o quanto antes para evitar problemas cardíacos precoces.

saiba mais

- Em 10 anos, obesidade pode atingir 2/3 dos brasileiros, diz Temporão- Reação à obesidade tem se limitado a discurso repetitivo, diz especialista
A nutricionista conta que o projeto tenta mostrar aos pais que eles são fundamentais para a mudança da cultura que favorece o aumento das crianças acima do peso. "Não se pode falar que os pais tenham culpa. Mas em muitos casos os pais suprem a falta de tempo com alimentos. Trocam o afeto, o carinho, por alimento. É preciso mudar esses pré-conceitos. Não posso levar um livro e ler junto com o meu filho?", comentou a nutricionista.

A endocrinologista Rosana Radominski, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), comenta que o aumento das pessoas acima do peso é "sinal da modernidade". "Há um aumento do sedentarismo por causa da violência, da comunicação pela internet. Ao mesmo tempo não se tem comida saudável por causa da falta de tempo."

Para ela, é essencial investir na prevenção da obesidade infantil. "Aí, é que está o foco. É mais barato investir na prevenção. O problema são as doenças que vêm junto, excesso de colesterol, hipertensão, piora da asma, sono, mau rendimento escolar. A saída é uma mudança na forma de pensar. Criança gordinha não é criança saudável. É preciso estimular amamentação, peso saudável na gestação, mastigação adequada. A criança precisa voltar a brincar, estimular os exercícios. Pular corda tem que voltar a ser moda".

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Brasileiro está mais gordo, de acordo com nova pesquisa do IBGE

A população brasileira está ficando mais gorda, em velocidade acelerada. O excesso de peso já atinge metade da população adulta; uma em cada três crianças (de 5 a 9 anos); e um quinto dos adolescentes no País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, o instituto divulgou o levantamento Antropometria - Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil - da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009.
Para o levantamento, foram entrevistadas 188.461 pessoas, sendo 93.175 homens e 95.286 mulheres, entre maio de 2008 e maio de 2009. A população acima do peso está espalhada em todas as regiões, com leve prevalência no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O problema atingiu cerca de metade dos adultos em todas as regiões, com destaque para o Sul (56,8% dos homens, 51,6% das mulheres) e Sudeste (52,4 e 48,5% para homens e mulheres respectivamente). Os menores índices de sobrepeso para homens estão no Nordeste (42,9%) e, para mulheres, no Centro-Oeste (45,6%). Entre as mulheres, a obesidade atingia quase um quinto das mulheres no Sul (19,2%) e a participação dos obesas nas populações das regiões só esteve abaixo dos 10% para as moradoras do Nordeste (9,9%).
Ainda segundo o levantamento, o aumento de peso em adolescentes de 10 a 19 anos foi contínuo nos últimos 34 anos, e foi mais freqüente em áreas urbanas do que em rurais, em ambos os sexos.
O IBGE informou ainda que, na população de 20 anos ou mais, o sobrepeso no sexo masculino saltou de 18,5% em 1974-1975 para 50,1% em 2008-2009. No sexo feminino, o avanço foi menos intenso, e a participação saltou 28,7% para 48%, no mesmo período.
Embora o instituto tenha detectado pessoas com excesso de peso em todas as faixas de renda, entre os homens a concentração de pessoas mais obesas é maior no grupo dos 20% mais ricos, entrevistados para a análise. Entre os homens adultos, 61,8% dos 20% mais ricos estavam acima do peso, ante 36,9% no grupo dos 20% com menor rendimento. No caso das mulheres, as proporções ficaram em 47,4% e 45%, nos grupos das 20% mais ricas e das 20% mais pobres, respectivamente. Entretanto, a obesidade atingia quase um quarto (23,6%) das crianças do sexo masculino de maior renda - sendo que alcançava 10,8% das crianças em faixa de renda menos elevada.
O levantamento também mostrou que a altura mediana dos brasileiros jovens está praticamente coincidente com a curva padrão recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O declínio do déficit de altura é um dos fatores que servem para medir a redução na desnutrição infantil, e a pesquisa confirma a progressiva redução desse problema. Entre as pesquisas de 1974-1975 a de 2008-2009, a predominância de déficit de altura em ambos os sexos em crianças de 5 a 9 anos recuou de 29,3% para 7,2%.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


Refeição em família ajuda a prevenir obesidade infantil


Além de ter o prato repleto de verduras e legumes, ter mais refeições em família pode ser o segredo para prevenir a obesidade infantil, de acordo com estudo feito pela Universidade Harokopio, na Grécia. Segundo os especialistas, a análise de mais de mil crianças mostrou que aquelas que comiam à mesa com os pais e consumiam mais vegetais eram mais saudáveis do que as crianças que não tinham esses hábitos alimentares.

O estudo recentemente publicado no Journal of Pediatrics contou com a análise de dados de crianças com idades entre nove e treze anos. Assim, os pesquisadores puderam observar que as famílias que normalmente preparavam o almoço e o jantar - ao invés de investirem em lanches nessas refeições - eram mais propensas a terem maior ingestão de vegetais e de terem seus filhos à mesa durante as refeições. E esse padrão alimentar foi associado à crianças com um menor índice de massa corporal (medida do peso em relação à altura), menor circunferência da cintura e menos gordura corporal. Os outros quatro padrões identificados foram: "alimentação desregrada, consumo de fast food e alimentos açucarados e estilo de vida sedentário"; "alimentação rica em fibras"; "café da manhã constante", e "exercícios físicos, consumo de frutas e vegetais". Porém, esses padrões não tiveram efeitos positivos nesse sentido.

De acordo com os pesquisadores, ainda não está claro porque apenas o padrão "refeições familiares/ vegetais" foi associado a um menor peso das crianças. Entretanto, eles destacam que os hábitos de se ter refeições em família e de cozinhar pode significar que as crianças tenham maior adesão à tradicional dieta mediterrânea - rica em vegetais, azeite de oliva, grãos integrais e peixes. Apesar de as crianças do estudo terem sido avaliadas uma única vez, os pesquisadores destacam que esse padrão alimentar pode ser uma "potencial abordagem preventiva" para combater a obesidade infantil.
Para combater à obesidade infantil

Além de se sentar à mesa com seu filho para fazer as refeições, pequena hábitos podem ajudá-lo a se alimentar de maneira mais saudável. Confira as dicas abaixo da nutricionista Roberta Stella, do Dieta e Saúde.

- Prato do tamanho certo: durante o crescimento do bebê, é normal observar mudanças na quantidade de alimentos ingerida. No primeiro ano de vida, a criança apresenta um rápido desenvolvimento. Após completar um ano, a velocidade de crescimento diminui e, consequentemente, a quantidade de alimentos ingerida tende a ser menor. Por isso, não vale ficar preocupada se o seu filho começa a ingerir menos alimentos do que você espera.

- Horários regrados: se o almoço na sua casa é ao meio-dia, nem pense em dar uma mamadeira para a criança perto desse horário. Claro que o apetite vai sumir. As refeições realizadas junto à família incentivam a criança a comer e despertam o apetite dela para alimentos diferentes. Por isso, é importante incluir sempre sabores novos no cardápio e experimentá-los na companhia do seu filho.

- Dê exemplo: os hábitos alimentares da família servem de exemplo para a criança. Se as pessoas ao redor consomem refrigerantes, frituras, salgadinhos e, oferecem à criança frutas, sucos e legumes, certamente, ela terá mais resistência para aceitar esses alimentos que não são hábitos da família.

- Espante a preguiça: parece loucura, mas algumas crianças têm preguiça de comer. Entretidas com outras atividades, elas não sentem a menor vontade de interromper a brincadeira para exercitar a mastigação ainda mais quando o prato está muito cheio e o tempo perdido pode ser grande. Para ajudar nesse problema é ideal usar o aumento gradual na quantidade de comida e gratificações logo após as refeições. Brincadeiras também são bem vindas.

- Cozinhem juntos: prepare o menu com a ajuda da criança. Peça sugestões para ela, mas não deixe de direcionar o cardápio. Use a oportunidade para mostrar a importância balancear as refeições, consumir alimentos saudáveis e restringir aqueles mais calóricos e com menor qualidade nutricional.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Chimarrão, café ou chocolate quente?

No frio, elas são as bebidas preferidas dos brasileiros. E têm muito em comum: são responsáveis por uma sensação de bem-estar e auxiliam no combate a doenças. Mas se consumidas em exagero, também podem levar ao vício, aumento da pressão arterial e reduzir a absorção de ferro e de outros nutrientes. O jeito é consumir com moderação.


Lilo Barros, especial para a Gazeta





Chimarrão

Tem como base a erva-mate, que ajuda na prevenção do envelhecimento precoce, atua como cicatrizante e facilita o emagrecimento. “Mas é importante reforçar que as pessoas devem ter hábitos saudáveis de vida, como comer bem e fazer exercícios”, explica a bióloga Luciana Nowacki, mestre em farmacologia, que há cinco anos estuda os efeitos da planta.
Por outro lado, a erva do chimarrão pode causar insônia. Ela também tem um alto grau diurético, promovendo a eliminação de grandes quantidades de nutrientes do corpo. Como é consumida muito quente, a bebida pode provocar a perda parcial do paladar e favorecer a formação de tumores na boca e no esôfago. A água do chimarrão não pode chegar ao ponto de ferver.

Chocolate quente

Vilão das dietas, por ser muito calórico, o chocolate é mocinho na luta contra o estresse, depressão e mau humor. Ele está ligado a uma sensação de satisfação e bem-estar. Quem afirma é o nutrólogo Marco Cassou, que alerta: “como qualquer outro produto, é preciso ter cuidado com a origem e a qualidade desse chocolate”. Quanto mais amargo, mais cacau ele tem, o que previne os efeitos do envelhecimento precoce e as doenças do coração.
Pessoas mais sensíveis a alguns de seus componentes, como a lactose, podem sofrer de irritações na pele, estômago e intestino. O consumo em excesso pode ainda provocar diarreia. Quem tem problemas no fígado e diabete deve ter cuidado redobrado, por causa dos níveis de gordura e açúcar. “O chocolate pode não ser a causa da acne, mas favorece o surgimento delas”, acrescenta a nutricionista Luisa.


Café


“Ele é um estimulante que causa bem-estar, vigor e também resistência para exercício físico”, esclarece a nutricionista Luisa Amabile Wolpe Simas, professora das Faculdades Integradas Espírita. Além disso, a bebida ajuda no combate à depressão, doenças do coração, emagrecimento e prevenção de alguns tipos de câncer. E sim, o cafezinho com açúcar ameniza os efeitos do excesso de álcool.

Já doses elevadas de café podem gerar taquicardia, insônia, ansiedade, aumento da pressão arterial e problemas gástricos, como azia. A adição de açúcar pode intensificar alguns desses problemas. “A diferença do café descafeinado, que não tem cafeína, para o normal é que ele não estimula tanto o corpo. Só que pra retirar essa cafeína dos grãos são utilizados alguns produtos que podem ser mais nocivos à saúde”, pondera Luisa.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O que seu filho come na escola?


Publicado em 21/07/2010 Anna Simas - Gazeta do Povo

A escola também é responsável pelo desenvolvimento de bons e maus hábitos alimentares entre crianças e adolescentes, já que é lá que eles passam pelo menos um terço do dia. As cantinas escolares de Curitiba são, desde 2005, proibidas por lei de venderem comidas não saudáveis. Mas isso não garante que as crianças estejam livres de uma alimentação ruim dentro dos colégios.


Conheça os principais perigos que rondam o ambiente escolar e o que os pais devem fazer para evitar que os filhos façam parte do grupo de 22% das crianças que estão acima do peso no país, dado divulgado em junho por uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Café se toma em casa

Antes de ir para a aula o estudante deve tomar café da manhã em casa e em quantidade suficiente. Isso evita que chegue na escola e coma na cantina antes de entrar em sala. Se ele toma café correndo ou ingere qualquer coisa porque acordou atrasado, vai comer em excesso depois. A nutricionista da Escola Saint Michel, Marcela Laufert Caran, explica que é comum os jovens comerem em panificadoras ao redor do colégio antes de entrar. “Geralmente optam por fritura, massa, doce ou algum produto industrializado, o que faz muito mal para a saúde.”

Se o aluno vai com muita fome para a hora do intervalo, a tendência é comer uma quantidade acima da ideal.”Tem criança que não se contenta apenas com sua fruta ou salgado assado. Come os seus e ainda o de algum colega que não queira. Então, o que era para ser saudável passa a fazer mal pela grande quantidade”, conta Marcela.

O médico endocrinologista e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, Amélio Fernando de Godoy Matos, diz que o ideal é que antes de sair de casa pela manhã o jovem coma pelo menos uma fruta, uma fatia de pão integral, leite desnatado sem açúcar ou com adoçante, queijo e, no máximo duas vezes por semana, um ovo. “Se seguir isso ele vai sentir menos fome na hora do intervalo e ter pouca chance de ganhar peso.”

Perigo no bolso

Ao contrário das cantinas, lanchonete, banca de revistas, carrinho de doce e pipoca e panificadora ao redor das escolas não têm restrição à venda de alimentos. Para os menores, que ainda não ganham dinheiro dos pais, não há perigo, mas a partir dos 11 anos, quando a criança começa a ganhar dinheiro para o lanche, o acesso ao que faz mal é mais fácil.

Balas e chicletes são os principais vilões consumidos com aquela verba que sobra. Muitas crianças compram antes de entrar na escola ou na hora do intervalo. “Tem aluno que chega com o bolso cheio e distribui para todo mundo. Dentro de sala não é permitido comer porque o excesso de doce tira a concentração, mas na hora do recreio não tem como controlar”, conta Marcela.

Uma dica sugerida pela nutricionista da Escola Umbrella e do Hospital Evangélico de Curitiba, Lígia Maria Michelin, é que os pais conheçam os valores exatos do lanche da cantina e deem apenas o necessário para que não sobre para comprar outros alimentos. Se a escola permitir, podem também pagar por todo lanche do mês antecipado para que os filhos não precisem de dinheiro. Ela lembra que é fundamental que os pais não tenham no armário de casa qualquer guloseima, pois alguns jovens pegam escondido e levam para comer na escola.

Dentro da lancheira

O que vai dentro da lancheira pode contribuir para a alimentação saudável ou ser um veneno. O segundo caso acontece quando os pais não têm consciência dos malefícios ou, por falta de tempo, preferem os alimentos prontos e industrializados mais práticos, como bolachas recheadas, chocolates e salgadinhos.

A nutricionista do Colégio Dom Bosco, Andréa Lúcia Tetti, explica que o lanche preparado pela família deve seguir a mesma regra que as nutricionistas usam no cardápio da escola. “Tem de combinar uma proteína, como carne ou queijo, fibras, como frutas e verduras, e carboidratos, como o pão. Os doces não estão totalmente proibidos, mas devem ser consumidos em pequenas quantidades e não todos os dias da semana.”

Um dos problemas que os pais podem enfrentar quando mandam o lanche do filho é que ele se interesse pelo o que o colega come, o que é bastante comum entre as crianças. Mas, quando a maior parte delas leva comidas saudáveis, o exemplo passa a ser positivo e até estimula que o outro queira provar um alimento que nunca experimentou. “Tem aluno que só consome determinada fruta na escola, mas em casa não. Isso acontece porque ele vê que todos comem e quer fazer parte do grupo”, conta Lígia.

Desistir, nunca

Se a criança ou jovem experimentar pela primeira vez na escola algo saudável não significa que criará um hábito. É comum que ela continue com resistência ao alimento. Nessa hora a família precisa ter pulso firme, principalmente com os menores, e insistir sempre. A coordenadora da educação infantil da Escola Umbrella, Anna Carolina Jordan, sugere que os pais tentem oferecer o alimento pelo menos dez vezes e em dias espaçados.

Mas a falta de tempo dos pais pode levar à desistência ou ao uso do castigo, que não funciona a longo prazo. “Não recomendamos isso de maneira alguma, porque se você fala para seu filho que se ele não comer tal alimento não vai brincar, por exemplo, ele pode reverter a situação e fazer uma chantagem, pedindo algo em troca para se alimentar”, explica Anna Carolina.

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De filho para pai

Existe um consenso entre nutricionistas e professores de que o hábito alimentar vem de casa, mas a escola hoje é fundamental na hora de consolidar o que é saudável ou transformar o que está errado, atingindo inclusive os pais. Se­­gundo a Diretora do Colégio No­vo Ateneu, Vera Julião, as crianças levam muito a sério o que o professor fala e isso se reflete quando estão com a família, pois ensinam os próprios pais. “É curioso ver que quando pai e mãe não mudam de comportamento e mandam lanches não saudáveis, as outras crianças repreendem o colega e cobram dele que coma o que a professora diz fazer bem à saúde”, afirma.

No mesmo colégio os pais podem, se agendarem com antecedência, almoçar com os filhos para saber o que eles comem. Sentam juntos à mesa, recebem a mesma bandeja de alimentos. Vera conta que as regras são iguais para todos e, que no começo do ano, eles bebiam suco durante o almoço, mas hoje sabem que faz mal à digestão e mudaram de comportamento. “Isso é apenas um dos exemplos de como a escola modifica o comportamento da família.”

Para os mais velhos, principalmente adolescentes, nem sempre a orientação das professoras funciona. A nutricionista da Escola Saint Michel Marcela Laufert Caran explica que para essa idade a preocupação com a aparência é grande, e o que faz com que eles mudem de hábito alimentar são o excesso de peso ou alguma doença que possa comprometer atividades que gostam de fazer.

Lucas Pavelski, 15 anos, descobriu que estava com o colesterol alto, conversou com a mãe, Valdeni da Silva Pavelki, e decidiram pedir ajuda à nutricionista da escola para orientar na dieta em casa e no colégio. “Antes eu dava dinheiro para ele comprar sanduíche e percebia que muitas vezes ele comia na panificadora da esquina. Hoje ele leva lanche de casa que eu preparo de acordo com o que ela me ensinou e com o que ele aprendeu lá. Quase todo dia tem água de coco com algum biscoito integral”, conta a mãe.

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Mão na massa

Ir à cozinha para aprender. Esta é a lição dada em algumas escolas de Curitiba para facilitar a conscientização sobre alimentação saudável. As professoras levam as crianças ao local onde é preparado o lanche e enquanto elas ajudam a nutricionista, recebem orientações e entendem porque é importante comer aquela verdura que parece tão ruim.

A nutricionista do Colégio Dom Bosco, Lúcia Tetti, conta que os pe­­quenos preparam uma vez por semana salada de frutas, suco, salada de verduras, sopa e modelam bolinhos com açúcar mascavo, um ingrediente novo para a maioria dos alunos. “Quando en­­­tram em contato com o alimento que preparam sen­­­tem mais vontade de degustar, inclusive aquilo que não conhecem. Então fica mais fácil apresentar sabores até então desconhecidos. Elas rejeitam menos. Sem contar que é uma grande diversão para os alunos, porque é uma atividade que foge da rotina”.

Além de noções alimentares os estudantes têm também reforço de Matemática e Português, pois as receitas envolvem noções de leitura e interpretação de texto, assim como cálculos matemáticos simples. A diretora de educação infantil da mesma escola, Maria Lúcia Cas­tellano, conta que antes de irem à co­zinha, os alunos têm em sala lições sobre as consequências de uma má alimentação. “Ten­tamos incluir o assunto nos planos de aula pelo menos uma vez por semana, seja na jardinagem, educação física ou ciências.”

Na Escola Umbrella a aula de culinária também acontece, mas existe outra forma de incentivar as crianças a comerem alimentos saudáveis. Duas vezes por semana elas fazem um piquenique no bosque da escola e os professores sentam junto para comer e conversar. “Muitos alunos seguem o comportamento do professor. Se ele come algo diferente e diz que é bom, os outros vão querer experimentar”, explica a coordenadora da educação infantil da escola, Anna Caro­lina Jordan. Mas, se ainda houver resistência dos estudantes ela trabalha com formas lúdicas, como cortar os alimentos em formato de figuras ou enfeitar pratos e copos.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Muitos pais cometem falhas na alimentação das crianças sem perceber


Julia Priolli
Revista Vida Simples – 07/2010

"Dá uma mamadeira queridinha, mamãezinha", dizia o Francisco, aos 3 anos de idade, depois que nasceu Sebastião. Eu ficava comovida. A mamadeira de leite com achocolatado apaziguava alguma coisa dentro dele que ultrapassava minha capacidade de compreensão. "É meu peito", argumentava ele, me deixando sem palavras, enquanto eu amamentava seu irmão. Me deixava também sem poder de veto, que sempre exerci sem remorsos. Culpa é para mãe desocupada. Lá em casa não dá tempo. Então, antes que ele abrisse o berreiro e convidasse o irmão a se juntar àquela ópera, eu dava logo uma mamadeira. Ou duas. Ou três.

Então fui convocada a fazer esta reportagem e investigar os erros que os pais cometem e que atrapalham o paladar e a alimentação dos seus filhos. A primeira coisa que fiz foi assistir a uma palestra de Jamie Oliver, o chef inglês da hora - aquele que conseguiu a proeza de reformular a merenda da rede de ensino britânica. E descobri que, com as várias "mamadeirinhas queridinhas" que o Francisco tomava por dia, ele ingeria um "carrinho de mão" de açúcar por ano. Mesmo sendo zelosa com a alimentação dos pequenos, ao escrever esta reportagem percebi, constrangida, que minha própria casa era uma comédia dos erros - será que a sua também é?

Forçar as boas maneiras
Meus filhos comem bem. Mesmo reclamando, o Francisco nunca deixa sobrar nada no prato e opera o garfo com destreza de dar gosto. Aprendi com minha mãe que desperdício, bem como falar de boca cheia, é uma grosseria. O Sebastião, de 7 meses, que está adentrando no universo dos comestíveis, se revelou uma pequena capivara, sempre colocando a mão em tudo. Lá em casa já virou bordão: "Sem as mãos", e assim vou ministrando as colheradas sem deixar que o pequeno encoste na comida. Tudo isso para descobrir, com cara de eureca, que se sujar faz parte do processo. "A alimentação é uma experiência sensorial completa e levar comida à boca é decorrência da manipulação", diz o pediatra e consultor do Ministério da Saúde Carlos Eduardo Correa. Ele afirma que, se a experiência sensorial for prazerosa bem no comecinho da vida, a criança sempre vai querer experimentar coisas novas. Nem adianta querer passar noções de etiqueta antes de a criança completar 1 ano. Entre os 2 e os 3 anos de idade, a criança começa a entender o porquê das regras, tem habilidade para usar a colher. "As boas maneiras devem ser introduzidas como parte do processo de aprendizagem, com naturalidade", diz a psicóloga e doula Daniela Andretto.

Proibir de entrar na cozinha
Na cozinha, meus pequenos só entravam na hora de comer. Sempre os deixei longe do fogo e das facas. Longe, por tabela, do preparo das comidas. Um erro, como vim a saber. Pesquisadores em pedagogia da Universidade de Colúmbia, Nova York, descobriram que preparar comidas saudáveis junto com as crianças afeta seus hábitos alimentares de maneira positiva. Aproximadamente 600 crianças de 6 a 12 anos que participaram de aulas de culinária e nutrição começaram a comer mais grãos e vegetais. O fato de prepararem seus próprios alimentos as tornou mais propensas a comer bem. "Não deixar a criança entrar na cozinha é um erro natural. Os pais têm medo que elas se machuquem", diz a nutricionista infantil Ana Carolina Elias de Almeida. "Mas é importante envolvê-las no preparo da comida, inclusive na compra, para que elas possam conhecer a variedade de alimentos que existe." Tudo isso é possível com os devidos cuidados. Os pais devem ficar sempre de olho e nunca deixá-las sozinhas na cozinha. Mas, para o pediatra Carlos Eduardo, o medo de acidentes domésticos pode ser um risco em si: "Se a criança não aprende o que pode machucar, não reconhece os perigos do ambiente e fica vulnerável".

Longe das mãos, perto dos olhos
Minha casa também estava cheia de itens proibidos - chocolate, salgadinhos, refrigerantes - bem longe das mãos, mas suficientemente perto dos olhos a ponto de atiçar o desejo dos pequenos. Toda casa deve ter um pouco de guloseimas, mas estudos da Universidade de Penn State, nos EUA, sugerem algo que a gente, no fundo, já sabe: alimentos proibidos são mais desejáveis. Crianças foram sentadas em uma mesa com acesso ilimitado a doces e quitutes. Numa outra mesa, os doces ficaram dentro de um pote de vidro e as crianças foram informadas de que poderiam comer somente depois de 10 minutos. Na mesa em que o consumo era livre, comeu-se três vezes menos do que na mesa em que havia restrições. "A proibição reforça o desejo por coisas que não fazem bem. O doce é gostoso e proibido. Isso gera ansiedade na criança", diz Ana Carolina. Para solucionar o problema, a nutricionista sugere moderação por parte dos pais, ao comprar itens que não querem que os filhos consumam, e muito diálogo: "É um bom momento para trabalhar a questão dos limites com as crianças, explicar que tem a hora e a quantidade certa para comer".

Chantagem emocional
Não deixe que o "não comer" vire uma chantagem. Quando os pais colocam muito peso na questão, a criança abusa. O ideal é relaxar um pouco com isso, pois, como as bisavós já diziam: "Criança com fome come até maçaneta". Outra questão que contribui para a neurose da alimentação é a velha negociação. O famoso "come brócolis que eu te dou um presente". Pesquisadores da Penn State ofereceram às crianças figurinhas e horas em frente a TV em troca de um bom prato de verduras. Constataram que as crianças até comeram os legumes, mas aumentaram, e muito, sua implicância com os alimentos verdes. Lá em casa a negociação era sempre parte do processo, e no fim eu cometia ainda outro erro: enchia os meninos de beijos e mimos quando eles comiam bem. Segundo o pediatra Carlos Eduardo, não faz sentido que os pais passem a mensagem "eu gosto de você porque você come bem". É preciso, antes de tudo respeitar o desejo da criança de não comer.

Fazer refeições separados
Não encanar de maneira exagerada com a alimentação mostrou-se um caminho eficiente. Mas nem por isso os pais devem desistir. A Organização Mundial de Saúde sugere que um mesmo alimento deve ser oferecido repetidas vezes em diferentes dias e situações. "A receptividade da criança não é linear. Às vezes ela está disponível, às vezes não", explica Daniela. Por isso, antes de falar em alto e bom som (como fizemos lá em casa) que a criança não gosta de couve (guarde a frase para si), vá oferecendo em diferentes momentos, como quem não quer nada, de preferência durante a refeição em família. Esse era, por sinal, outro erro que cometemos no nosso doce lar. Por uma questão de logística, as crianças comem bem mais cedo do que a gente e raramente temos uma ceia familiar. Mas comer junto é um ritual. "É uma atividade social. Pode começar desde o sexto mês, quando o bebê já consegue sentar. A criança olha os pais comendo e imita. Quer fazer parte do grupo", diz Carlos. Nesse momento a criança aprende por imitação, inclusive, as boas maneiras.

Comer pratos diferentes
Mas não adianta sentar junto e comer diferente: arroz com feijão para o filho enquanto a mãe sorve um shake de regime. Uma revista de psicologia norte-americana colheu depoimentos de meninas de 8 anos de idade, filhas de mães adeptas de regimes intensos. Elas revelaram que suas noções próprias de uma boa alimentação estavam relacionadas a saladinhas ralas e milk-shakes. "Pais com distúrbios alimentares tendem a ter filhos com distúrbios alimentares, tanto para a obesidade quanto para a anorexia, e esses fatores não se devem só a predisposição genética", diz Ana Carolina. Por isso, embora já tenhamos afirmado que os pais têm direito de primar por suas beliscadas, a família deve buscar uma alimentação comum e equilibrada que atenda às necessidades das crianças e dos adultos. Lá em casa, isso foi mais difícil do que parecia: maneirar na pizza com refrigerante em frente ao futebol de domingo e encontrar um horário comum para comermos juntos.

Comilança vendo TV
O mais difícil mesmo foi mudar um hábito do Francisco: sentar na mesa na cozinha e não na frente da TV para tomar café. Um adendo: eu não tenho empregada. De manhã preparo o café do Francisco, enquanto cozinho os legumes da papinha do bebê e faço o café preto dos adultos. Deixar o Francisco na sala assistindo a Tom & Jerry atribuía à TV o papel da babá que nunca tive. Mas no fim da reportagem a mudança já era nítida. Começou com o leite achocolatado, que virou apenas leite. Em uma semana, o Francisco se acostumou. Para substituir o desenho animado, inventamos uma atividade lúdica: picar banana, maçã, amassar o papaia, cobrir de aveia e iogurte, ou seja, envolver o Francisco no preparo da salada de fruta. E também o Sebastião, que sentadinho na cadeirão ia amassando a banana com suas mãozinhas de quem um dia vai abraçar o mundo. Para sentarmos, por fim, os quatro juntinhos na mesa da cozinha, num delicioso ritual doméstico.

"Dá uma mamadeira queridinha, mamãezinha", dizia o Francisco, aos 3 anos de idade, depois que nasceu Sebastião. Eu ficava comovida. A mamadeira de leite com achocolatado apaziguava alguma coisa dentro dele que ultrapassava minha capacidade de compreensão. "É meu peito", argumentava ele, me deixando sem palavras, enquanto eu amamentava seu irmão. Me deixava também sem poder de veto, que sempre exerci sem remorsos. Culpa é para mãe desocupada. Lá em casa não dá tempo. Então, antes que ele abrisse o berreiro e convidasse o irmão a se juntar àquela ópera, eu dava logo uma mamadeira. Ou duas. Ou três.

Então fui convocada a fazer esta reportagem e investigar os erros que os pais cometem e que atrapalham o paladar e a alimentação dos seus filhos. A primeira coisa que fiz foi assistir a uma palestra de Jamie Oliver, o chef inglês da hora - aquele que conseguiu a proeza de reformular a merenda da rede de ensino britânica. E descobri que, com as várias "mamadeirinhas queridinhas" que o Francisco tomava por dia, ele ingeria um "carrinho de mão" de açúcar por ano. Mesmo sendo zelosa com a alimentação dos pequenos, ao escrever esta reportagem percebi, constrangida, que minha própria casa era uma comédia dos erros - será que a sua também é?

Forçar as boas maneiras
Meus filhos comem bem. Mesmo reclamando, o Francisco nunca deixa sobrar nada no prato e opera o garfo com destreza de dar gosto. Aprendi com minha mãe que desperdício, bem como falar de boca cheia, é uma grosseria. O Sebastião, de 7 meses, que está adentrando no universo dos comestíveis, se revelou uma pequena capivara, sempre colocando a mão em tudo. Lá em casa já virou bordão: "Sem as mãos", e assim vou ministrando as colheradas sem deixar que o pequeno encoste na comida. Tudo isso para descobrir, com cara de eureca, que se sujar faz parte do processo. "A alimentação é uma experiência sensorial completa e levar comida à boca é decorrência da manipulação", diz o pediatra e consultor do Ministério da Saúde Carlos Eduardo Correa. Ele afirma que, se a experiência sensorial for prazerosa bem no comecinho da vida, a criança sempre vai querer experimentar coisas novas. Nem adianta querer passar noções de etiqueta antes de a criança completar 1 ano. Entre os 2 e os 3 anos de idade, a criança começa a entender o porquê das regras, tem habilidade para usar a colher. "As boas maneiras devem ser introduzidas como parte do processo de aprendizagem, com naturalidade", diz a psicóloga e doula Daniela Andretto.

Proibir de entrar na cozinha
Na cozinha, meus pequenos só entravam na hora de comer. Sempre os deixei longe do fogo e das facas. Longe, por tabela, do preparo das comidas. Um erro, como vim a saber. Pesquisadores em pedagogia da Universidade de Colúmbia, Nova York, descobriram que preparar comidas saudáveis junto com as crianças afeta seus hábitos alimentares de maneira positiva. Aproximadamente 600 crianças de 6 a 12 anos que participaram de aulas de culinária e nutrição começaram a comer mais grãos e vegetais. O fato de prepararem seus próprios alimentos as tornou mais propensas a comer bem. "Não deixar a criança entrar na cozinha é um erro natural. Os pais têm medo que elas se machuquem", diz a nutricionista infantil Ana Carolina Elias de Almeida. "Mas é importante envolvê-las no preparo da comida, inclusive na compra, para que elas possam conhecer a variedade de alimentos que existe." Tudo isso é possível com os devidos cuidados. Os pais devem ficar sempre de olho e nunca deixá-las sozinhas na cozinha. Mas, para o pediatra Carlos Eduardo, o medo de acidentes domésticos pode ser um risco em si: "Se a criança não aprende o que pode machucar, não reconhece os perigos do ambiente e fica vulnerável".

Longe das mãos, perto dos olhos
Minha casa também estava cheia de itens proibidos - chocolate, salgadinhos, refrigerantes - bem longe das mãos, mas suficientemente perto dos olhos a ponto de atiçar o desejo dos pequenos. Toda casa deve ter um pouco de guloseimas, mas estudos da Universidade de Penn State, nos EUA, sugerem algo que a gente, no fundo, já sabe: alimentos proibidos são mais desejáveis. Crianças foram sentadas em uma mesa com acesso ilimitado a doces e quitutes. Numa outra mesa, os doces ficaram dentro de um pote de vidro e as crianças foram informadas de que poderiam comer somente depois de 10 minutos. Na mesa em que o consumo era livre, comeu-se três vezes menos do que na mesa em que havia restrições. "A proibição reforça o desejo por coisas que não fazem bem. O doce é gostoso e proibido. Isso gera ansiedade na criança", diz Ana Carolina. Para solucionar o problema, a nutricionista sugere moderação por parte dos pais, ao comprar itens que não querem que os filhos consumam, e muito diálogo: "É um bom momento para trabalhar a questão dos limites com as crianças, explicar que tem a hora e a quantidade certa para comer".

Chantagem emocional
Não deixe que o "não comer" vire uma chantagem. Quando os pais colocam muito peso na questão, a criança abusa. O ideal é relaxar um pouco com isso, pois, como as bisavós já diziam: "Criança com fome come até maçaneta". Outra questão que contribui para a neurose da alimentação é a velha negociação. O famoso "come brócolis que eu te dou um presente". Pesquisadores da Penn State ofereceram às crianças figurinhas e horas em frente a TV em troca de um bom prato de verduras. Constataram que as crianças até comeram os legumes, mas aumentaram, e muito, sua implicância com os alimentos verdes. Lá em casa a negociação era sempre parte do processo, e no fim eu cometia ainda outro erro: enchia os meninos de beijos e mimos quando eles comiam bem. Segundo o pediatra Carlos Eduardo, não faz sentido que os pais passem a mensagem "eu gosto de você porque você come bem". É preciso, antes de tudo respeitar o desejo da criança de não comer.

Fazer refeições separados
Não encanar de maneira exagerada com a alimentação mostrou-se um caminho eficiente. Mas nem por isso os pais devem desistir. A Organização Mundial de Saúde sugere que um mesmo alimento deve ser oferecido repetidas vezes em diferentes dias e situações. "A receptividade da criança não é linear. Às vezes ela está disponível, às vezes não", explica Daniela. Por isso, antes de falar em alto e bom som (como fizemos lá em casa) que a criança não gosta de couve (guarde a frase para si), vá oferecendo em diferentes momentos, como quem não quer nada, de preferência durante a refeição em família. Esse era, por sinal, outro erro que cometemos no nosso doce lar. Por uma questão de logística, as crianças comem bem mais cedo do que a gente e raramente temos uma ceia familiar. Mas comer junto é um ritual. "É uma atividade social. Pode começar desde o sexto mês, quando o bebê já consegue sentar. A criança olha os pais comendo e imita. Quer fazer parte do grupo", diz Carlos. Nesse momento a criança aprende por imitação, inclusive, as boas maneiras.

Comer pratos diferentes
Mas não adianta sentar junto e comer diferente: arroz com feijão para o filho enquanto a mãe sorve um shake de regime. Uma revista de psicologia norte-americana colheu depoimentos de meninas de 8 anos de idade, filhas de mães adeptas de regimes intensos. Elas revelaram que suas noções próprias de uma boa alimentação estavam relacionadas a saladinhas ralas e milk-shakes. "Pais com distúrbios alimentares tendem a ter filhos com distúrbios alimentares, tanto para a obesidade quanto para a anorexia, e esses fatores não se devem só a predisposição genética", diz Ana Carolina. Por isso, embora já tenhamos afirmado que os pais têm direito de primar por suas beliscadas, a família deve buscar uma alimentação comum e equilibrada que atenda às necessidades das crianças e dos adultos. Lá em casa, isso foi mais difícil do que parecia: maneirar na pizza com refrigerante em frente ao futebol de domingo e encontrar um horário comum para comermos juntos.

Comilança vendo TV
O mais difícil mesmo foi mudar um hábito do Francisco: sentar na mesa na cozinha e não na frente da TV para tomar café. Um adendo: eu não tenho empregada. De manhã preparo o café do Francisco, enquanto cozinho os legumes da papinha do bebê e faço o café preto dos adultos. Deixar o Francisco na sala assistindo a Tom & Jerry atribuía à TV o papel da babá que nunca tive. Mas no fim da reportagem a mudança já era nítida. Começou com o leite achocolatado, que virou apenas leite. Em uma semana, o Francisco se acostumou. Para substituir o desenho animado, inventamos uma atividade lúdica: picar banana, maçã, amassar o papaia, cobrir de aveia e iogurte, ou seja, envolver o Francisco no preparo da salada de fruta. E também o Sebastião, que sentadinho na cadeirão ia amassando a banana com suas mãozinhas de quem um dia vai abraçar o mundo. Para sentarmos, por fim, os quatro juntinhos na mesa da cozinha, num delicioso ritual doméstico.


domingo, 20 de junho de 2010

10 PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL - CRIANÇAS MENORES DE 2 ANOS


O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria estabeleceram, para crianças menores de dois anos, dez passos para a alimentação saudável.

Passo 1. Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos.

Passo 2. A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.

Passo 3. Após os seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada.

Passo 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.

Passo 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.

Passo 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida.

Passo 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.

Passo 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.

Passo 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequada.

Passo 10. Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Educação alimentar na hora do recreio




Ava de Freitas Revista Nova Escola – 06/2010




Todo mundo sabe da importância de comer bem: traz benefícios para a saúde, ajuda a nos manter ativos para realizar as tarefas do dia a dia e melhora até o humor. Uma alimentação saudável é aquela que reúne todas as substâncias químicas de que o corpo precisa para funcionar corretamente. Requer muita diversidade de ingredientes em todas as refeições, com equilíbrio entre carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais. Na escola, um espaço ocupado por crianças e jovens, isso se torna ainda mais relevante. Porém todo mundo sabe que a oferta de alimentos saudáveis nas cantinas e lanchonetes que funcionam dentro das escolas costuma ficar bem abaixo do desejável. Por questões de praticidade, custo e armazenamento, é mais fácil encontrar produtos industrializados, que têm prazo de validade maior - mas causam mais danos à saúde que os alimentos in natura. O domínio dos salgadinhos, doces e chocolates, porém, já é questão de saúde pública. Há dois anos, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma compilação de diversos estudos sobre o tema, que mostra que o aumento do número de crianças com excesso de peso varia de 10,8% a incríveis 33,8% conforme a cidade ou região. Diversos outros problemas, como diabetes, hipertensão arterial, alterações ortopédicas e elevação dos níveis de colesterol e triglicerídeos, têm se tornado frequentes entre a garotada. "O fato é que na escola se formam as bases do comportamento no que diz respeito à alimentação", diz a nutricionista Nina Flávia de Almeida Amorim, responsável técnica pelo projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB). Ela ressalta que, em média, as crianças consomem de 25 a 33% das calorias diárias no ambiente escolar, entre merenda e lanche, desde a hora em que chegam para a aula até o momento em que voltam para casa. A preocupação com esse tema fez com que muitos estados e cidades aprovassem leis sobre o que pode (e não pode) ser oferecido nas cantinas escolares. Em abril, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou um projeto que obriga creches, pré-escolas e instituições de Ensino Fundamental, públicas e privadas, a comercializar apenas alimentos saudáveis. A proposta tramita agora no Senado e, por mais que o texto original da lei não cite explicitamente quais são os heróis e os vilões na hora do lanche, está claro que salgadinhos, refrigerantes, biscoitos, balas e chicletes, bem como outros produtos industrializados ricos em gordura, açúcar e sal, entrarão na lista dos proibidos, a ser definida pelas autoridades sanitárias (confira nas ilustrações que acompanham esta reportagem os benefícios de cada grupo alimentar - e também os riscos que os produtos industrializados oferecem às crianças). SAUDÁVEIS E SABOROSOS Não é preciso impor sacrifícios para oferecer um cardápio nutritivo e atraente. A chave é apresentar diferentes grupos alimentares. Pães e torradas - Oferecem energia para o organismo por serem ricos em carboidratos, que dão a sensação de saciedade. É importante prestar atenção na quantidade de açúcar refinado entre os ingredientes. Frutas - São fonte de vitaminas, potássio, fibras e bioflavonoides (pigmentos com propriedades antioxidantes). Maçã, manga, banana, mamão, uva e morango devem estar sempre presentes na hora do lanche. Cereais - Ricos em fibras, os cereais matinais e as tradicionais barrinhas ajudam a manter baixo o nível de colesterol ruim, melhoram o trânsito intestinal e garantem a sensação de saciedade por um longo tempo. Sucos, água e água de coco - Hidratar-se é fundamental. A água deve ser bebida quase gelada para facilitar a absorção. Os sucos são ricos em minerais e eletrólitos, que prolongam a hidratação. E a água de coco, fonte de potássio, é reidratante. Leite e derivados - Contam com altas doses de cálcio, fundamental para os ossos. O iogurte natural traz ainda mais proteínas. O queijo branco tem mais cálcio que o leite. E nos queijos amarelos sobram as vitaminas A e D. VILÕES DA ALIMENTAÇÃO Pobres em nutrientes e ricos em gordura, sódio e açúcar, os produtos industrializados já foram banidos em alguns estados e municípios que têm leis sobre as cantinas escolares Salgadinhos e frituras - O principal problema dos salgadinhos de pacote são os altos índices de sódio, que podem provocar a elevação da pressão arterial. Já as frituras têm muita gordura, que colabora para o ganho de peso. Refrigerantes e sucos artificiais - Bebidas com alto teor de açúcar são pobres em fibras e micronutrientes. Contêm aditivos (como os corantes) e sódio. São considerados grandes vilões do sobrepeso e de novas cáries. Maionese, Ketchup e mostarda - Além de muito calóricos, têm altos teores de gordura total e de gordura saturada, açúcar, sódio e aditivos químicos. Por não conter fibras nem micronutrientes (vitaminas e minerais), podem causar a elevação da pressão arterial. Balas, pirulitos e chicletes - São alimentos com pouco ou nenhum valor nutricional e elevado teor de açúcar. Por isso, provocam ganho de peso e cáries. O excesso de açúcar eleva os níveis de colesterol e pode provocar problemas cardíacos. Biscoitos recheados - Como quase todos os alimentos desse grupo, têm muitas calorias, açúcar e gorduras - e poucas fibras e micronutrientes. A indústria vem tentando reduzir a taxa de gordura trans, um fator de risco para doenças do coração. Chocolate - São alimentos com grande concentração de gordura, ácidos graxos saturados e sódio. Seu consumo excessivo pode causar problemas de saúde, como colesterol alto, excesso de peso e doenças cardiovasculares. A CHANCE DE PAIS, PROFESSORES E ALUNOS REFLETIREM SOBRE O TEMA: A primeira lei sobre o assunto entrou em vigor em 2001, em Santa Catarina. No Paraná, a regulamentação específica passou a valer em 2004. "O grande mérito da lei foi provocar uma reflexão sobre o tema entre professores, alunos e pais", destaca Márcia Stolarski, nutricionista da Coordenadoria de Alimentação e Nutrição Escolar, ligada à Secretaria Estadual de Educação do Paraná. Segundo ela, hoje é possível observar uma melhora na alimentação das crianças, mas isso não veio de forma tranquila. "Muitos alunos começaram a levar refrigerantes, salgadinhos e bolachas recheadas de casa. E não só para o consumo próprio: também para vender para os colegas." Em paralelo, aumentou o número de vendedores ambulantes perto das escolas. "Eles passaram a vender tudo o que tinha sido proibido", lembra Leonilda Palmonari Metri, diretora da EE Nossa Senhora de Fátima, em Curitiba. Além disso, caiu a receita gerada pela cantina (espaço que, nas escolas públicas, é administrado direta ou indiretamente pela APM e cujos recursos ajudam a financiar pequenos gastos). "No nosso caso, perdemos cerca de 30% num primeiro momento." Curiosamente, quando havia frutas no cardápio da merenda escolar, a aceitação era sempre boa - mas a oferta na cantina demorou a ser bem aceita. Cleliani de Cassia da Silva, especialista em nutrição, saúde e qualidade de vida da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, reforça o papel da comunidade em relação a essa questão. "Em idade escolar, todos querem os mesmos alimentos que os colegas. Muitos têm vergonha de levar lanche de casa", explica ela. É por isso que bons exemplos fazem toda a diferença na promoção da alimentação saudável. Não adianta proibir a venda de doces se os professores mascam chicletes na frente da turma. A chave para o sucesso é a coerência (veja no quadro abaixo uma lista de ações simples que toda escola pode adotar). "Só retirar os alimentos não saudáveis da cantina não muda a situação. São necessárias ações focadas nas crianças, nos pais, nos funcionários e assim por diante", insiste Estela Marina Alves Boccaletto, da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Daí a importância de envolver na discussão os responsáveis pelo preparo dos alimentos vendidos nas cantinas. A UnB mantém desde 2001 o projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis. Uma de suas principais ações é capacitar os cantineiros e ajudá-los a transformar seu mix de produtos de forma a compor um cardápio com alimentos mais saudáveis e que, ao mesmo tempo, agucem o paladar da garotada. Nina Amorim reconhece que dá mais trabalho fazer isso a continuar comprando salgadinhos de pacote, biscoitos, balas e chocolates. "Mais de uma vez, fomos criticados e até agredidos verbalmente por donos de cantinas que acham que vão quebrar com essa mudança", conta ela. "Mas, à medida que vamos apresentando alternativas, todos percebem que é possível trocar os itens prontos de longa validade por opções mais saudáveis. Algumas das opções mais populares do curso são gelatinas com pedaços de frutas, barrinhas caseiras de frutas e cereais, sanduíches naturais (sem maionese), salada de frutas, bolos enriquecidos com frutas e, claro, a valorização de ingredientes típicos de cada região do país, como tapioca, açaí e milho verde. Estela Boccaletto, da Unicamp, diz que tão importante quanto as leis é cada escola tomar para si seu papel de valorização da Educação como um todo. "É preciso ver as crianças e os jovens em sua plenitude e colaborar com seu crescimento, desenvolvimento e potencial. Para que isso ocorra, todos têm de estar preparados e ajudar os estudantes a fazer opções saudáveis nas refeições."



O QUE A ESCOLA PODE FAZER - Definir com a Associação de Pais e Mestres (APM) o que pode ser vendido e o que deve ser vetado na cantina e zelar pelo cumprimento do acordo. - Esclarecer os pais sobre a importância da boa alimentação e estimulá-los a cuidar da rotina alimentar dos filhos. - Trabalhar para conscientizar docentes e funcionários sobre a necessidade de oferecer bons exemplos aos alunos. - Incluir a alimentação saudável como um conteúdo transversal permanente das áreas do conhecimento.

terça-feira, 1 de junho de 2010

INTRODUÇÃO DE NOVOS ALIMENTOS



A introdução de alimentos na dieta da criança após os seis meses de idade deve complementar as numerosas qualidades e funções do leite materno, que deve ser mantido preferencialmente até os dois anos de vida ou mais. Além de suprir as necessidades nutricionais, a partir dos seis meses a introdução da alimentação complementar aproxima progressivamente a criança aos hábitos alimentares de quem cuida dela e exige todo um esforço adaptativo a uma nova fase do ciclo de vida, na qual lhe são apresentados novos sabores, cores, aromas, texturas e saberes.
O grande desafio do profissional de saúde é conduzir adequadamente esse processo, auxiliando a mãe e os cuidadores da criança de forma adequada, e estar atento às necessidades da criança, da mãe e da família, acolhendo dúvidas, preocupações, dificuldades, conhecimentos prévios e também os êxitos, que são tão importantes quanto o conhecimento técnico para garantir o sucesso de uma alimentação complementar saudável. Para tal, a empatia e a disponibilidade do profissional são decisivas, já que muitas inseguranças no cuidado com a criança não têm “hora agendada” para ocorrer e isso exige sensibilidade e vigilância adicional não só do profissional procurado, mas de todos os profissionais da equipe, para garantir o vínculo e a continuidade do cuidado. Considera-se atualmente que o período ideal para a introdução de alimentos complementares é após o sexto mês de vida, já que antes desse período o leite materno é capaz de suprir todas as necessidades nutricionais da criança. Além disso, no sexto mês de vida a criança já tem desenvolvidos os reflexos necessários para a deglutição, como o reflexo lingual, já manifesta excitação à visão do alimento, já sustenta a cabeça, facilitando a alimentação oferecida por colher, e tem-se o início da erupção dos primeiros dentes, o que facilita na mastigação. A partir do sexto mês a criança desenvolve ainda mais o paladar e, conseqüentemente, começa a estabelecer preferências alimentares, processo que a acompanha até a vida adulta.
O sucesso da alimentação complementar depende de muita paciência, afeto e suporte por parte da mãe e de todos os cuidadores da criança. Toda a família deve ser estimulada a contribuir positivamente nessa fase. Se durante o aleitamento materno exclusivo a criança é mais intensamente ligada à mãe, a alimentação complementar permite maior interação do pai, dos avôs e avós, dos outros irmãos e familiares, situação em que não só a criança aprende a comer, mas também toda a família aprende a cuidar. Tal interação deve ser ainda mais valorizada em situações em que a mãe, por qualquer motivo, não é a principal provedora da alimentação à criança. Assim, o profissional de saúde também deve ser hábil em reconhecer novas formas de organização familiar e ouvir, demonstrar interesse e orientar todos os cuidadores da criança, para que ela se sinta amada e encorajad a entender sua alimentação como ato prazeroso, o que evita, precocemente, o aparecimento de possíveis transtornos psíquicos e distúrbios nutricionais. A alimentação complementar deve prover suficientes quantidades de água, energia, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, por meio de alimentos seguros, culturalmente aceitos, economicamente acessíveis e que sejam agradáveis à criança. O profissional de saúde torna-se promotor da alimentação saudável quando consegue traduzir os conceitos, de forma prática, à comunidade que assiste, em linguagem simples e acessível. Assim, na orientação de uma dieta para a criança, por exemplo, devese levar em conta conceitos adequados de preparo, noções de consistência e quantidades ideais das refeições e opções de diversificação alimentar que contemplem as necessidades nutricionais para cada fase do desenvolvimento.



TEXTO COMPLETO: http://www.telessaudebrasil.org.br/lildbi/docsonline/8/1/118-CAB_23_Saude_da_Crianca_em_01_06_09.pdf




Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2009.
112 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Além de saudável, o lanche da criançada pode ser prático e gostoso


Últimas notícias / Agência Estado - Veja - 04 de Fevereiro de 2010

Comportamento
Além de saudável, o lanche da criançada pode ser prático e gostoso

São Paulo, 04 (AE) - Leite com achocolatado pode, mas só duas vezes por semana. Bolo de chocolate também pode, mas só se for sem recheio. Aprender a conciliar as preferências culinárias das crianças com as necessidades nutricionais da infância na hora de montar a lancheira escolar é uma tarefa de gente grande. "É difícil para a mãe unir praticidade com qualidade e nem sempre a criança aceita o que foi colocado na lancheira. Muitas vezes, o que é prático não é a escolha mais saudável, mas é o que as crianças preferem", explica a gerente de nutrição do Hospital do Coração (HCor), Rosana Perim.


Apostar na diversidade de cardápios para a merenda infantil, segundo Rosana, é a melhor forma de garantir alimentação balanceada. "O consumo de produtos variados, inclusive de itens com cores diferentes, faz com que a alimentação seja mais divertida e gostosa", acredita. "Além disso, é uma estratégia importante para se obter todos os nutrientes necessários. A criança com boa alimentação, contendo todos os nutrientes na quantidade adequada, brinca mais, aprende com mais facilidade, cresce e se desenvolve melhor", completa.


Rosana ressalta a importância do lanche balanceado, com opções que contemplem todos os grupos de alimentos. "A criança precisa de proteínas, carboidratos, vitaminas, sais minerais e até da gordura", explica. "Um bom jeito de garantir o equilíbrio é dividir a lancheira em três partes: uma porção de fruta ou de suco natural, mais uma fonte de carboidrato, que pode vir de pães ou de bolos e biscoitos sem recheio, e por último uma opção láctea, representada por queijos, iogurte e leite", detalha a nutricionista Sara da Silva Simas, sócia da Nutriescola, empresa que presta assessoria nutricional para 12 escolas de educação infantil da rede particular.


Sara recomenda que a família observe se a escola dispõe de condições adequadas para conservar o alimento antes de montar a lancheira. "Às vezes há a opção de deixar o lanche em uma geladeira. Mesmo assim, é sempre mais seguro ter uma lancheira térmica, sobretudo no verão, quando a contaminação dos alimentos é bem mais comum."


Para garantir um lanche saudável sem abrir mão da praticidade, Sara sugere que os pais escolham frutas pouco perecíveis. "Sucos naturais de uva ou de maracujá podem ficar de um dia para o outro dentro da geladeira. Já o de maçã eu não indico porque escurece, deve ser tomado fresco. O suco de laranja também não é a melhor opção porque precisa ser tomado imediatamente. Caso contrário, perde grande parte das vitaminas", explica.


A nutricionista diz que escolher a fonte de carboidratos é sempre a parte mais polêmica do lanche. "As crianças adoram bolacha recheada, mas só tem gordura saturada naquilo. Muitas dessas bolachas também são carregadas de sódio, o que estimula a hipertensão. Por outro lado, a bolacha é um produto que marca a infância, que tem um tamanho gostoso. Assim, uma boa opção é escolher tipos mais leves, como as de maisena, gergelim ou aveia com mel, além dos cookies integrais", indica.


Segundo Sara, controlar a quantidade dos alimentos é melhor do que introduzir itens do tipo light. "A criança deve aprender a comer o produto como ele é, na quantidade certa. É melhor comer o pão com duas passadas de faca de requeijão normal do que o pão mergulhado no requeijão light", diz. Doutora em saúde pública pela USP, a nutricionista Daniela Wenzel também pede atenção ao tamanho das porções. "Deve ser uma refeição adequada ao momento. Intervalos são curtos e as crianças estão mais preocupadas com a brincadeira do que com a comida. Por isso, o lanche deve ser rápido", ensina.


Katia Terumi, nutricionista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, lembra ainda que uma alimentação balanceada garante, além da energia e disposição, um bom rendimento escolar às crianças. "O carboidrato, por exemplo, é o combustível para o funcionamento cerebral, estimulando o raciocínio e a concentração. Já as proteínas favorecem o sistema imunológico, evitando que a criança fique gripada ou pegue uma virose, que é comum nas escolas. Quando a lancheira vai repleta de guloseimas, cheias de gorduras, a criança terá uma digestão lenta, o que provoca sono e, consequentemente, a falta de atenção à aula", atenta.


BOXE


Cinco lições para elaborar um lanche saudável


1 - Carboidratos : Evite a monotonia alternando as fontes de carboidrato entre itens salgados e doces. No caso dos salgados, evite fritos e folhados, privilegiando os assados. Para os pães, o melhor é optar pelo tipo integral - binasguinha e pãozinho francês também podem frequentar a lancheira, já que o ideal é que o lanche de hoje não se repita no dia seguinte. Crianças maiores aceitam bem as barrinhas de cereais. Entre os menores, uma fatia de bolo sem recheio, de laranja ou fubá, é uma opção aconselhável


2 - Bolachas: Biscoitos recheados e do tipo wafer, ricos em gorduras, são os vilões da boa alimentação e os queridinhos da criançada. Experimente oferecer variações mais saudáveis do produto, sem recheio: aveia com mel, gergelim, maisena, água e sal... E, mesmo assim, esteja atento à quantidade de bolachas, pois ela são muito calóricas: cinco unidades é o suficiente; nada de mandar um pacote inteiro na lancheira.


3 - Lácteos : Garantir o aporte de cálcio, abundante no queijo do lanchinho e no leite, é fundamental até os 18 anos - período em que os ossos estão em desenvolvimento. Queijos do tipo polenguinho, de fácil conservação, são indicados no pão. Requeijão também é permitido, mas com moderação. Segundo os especialistas, limitar a quantidade é melhor do que introduzir a versão light do produto. Leite com chocolate também tem cálcio, além de muito açúcar: duas vezes por semana é o limite.


4 - Sucos, chás e água de coco: Refrigerantes estão vetados. Optar pela água-de-coco é interessante porque ela ajuda a repor sais minerais perdidos no suor, durante as brincadeiras. Para os sucos, prefira os naturais - ou bata a polpa congelada com água. Se a única opção for o de caixinha, leia o rótulo e certifique-se de que ele contém o néctar da fruta (fuja dos que trazem a inscrição: ‘sabor artificial de ...’). Chás também valem.


5 - Frutas: Elas são itens essenciais na lancheira, pois têm grandes quantidades de vitaminas, minerais e fibras. Uma boa dica é deixar que a criança participe da escolha do tipo de fruta. Assim, ela terá uma refeição mais prazerosa. Lembre-se, contudo, de que algumas variedades são muito perecíveis e podem não resistir até o intervalo. Este é o caso da pera, por exemplo. Maçã, banana e uva estão entre as mais resistentes.



- Sugestões de cardápio do Hospital do Coração (HCor)


OPÇÃO 1:

2 bisnaguinhas com geleia de morango

1 caixinha de achocolatado

1 maçã


OPÇÃO 2:

1 fatia de bolo de chocolate

1 caixinha de chá

1 banana


OPÇÃO 3:

2 fatias de pão integral com queijo do tipo polenguinho

1 caixinha de suco de frutas

1 bananinha